segunda-feira, outubro 30, 2006

Polónia | Parte 4 | Cracóvia e Wieliczka

Alguém se sente de férias?

Ponto de situação: tinhamos acabado de subir o Gerlach e, além das recordações dessa ascensão, tinhamos dores infernais em todos os músculos das pernas. Objectivo: ir até Cracóvia de carrinho sem nos chateramos muito e descansar até ao final da viagem (em Cracóvia iriamos apanhar o avião de regresso a Lisboa). O que acabamos por fazer? Nada, mas absolutamente nada daquilo que tinhamos pensado...

Ora bem – vinhamos nós de carro a caminho de Cracóvia, invadidos pela nostalgia de deixar Zakopane, e achámos que ir visitar as minas de sal de Wieliczka era um programa simpático. E até era se considerarmos que vimos uma série de galerias das mais de 2000 existentes e várias capelas subterrâneas e 1 lindíssima catedral onde até o chão e candelabros eram feitos de sal. O problema é que há um elevador mas funciona apenas num sentido... por isso descemos 135m de profundidade talhada num infinito número de degraus e em cada um meus amigos...doiam todos os músculos das pernas (até aqueles que nós desconheciamos que tinhamos). Lá se foi o descanso planeado e desejado. Mas não nos arrependemos. Foi realmente uma visita inesquecivel. Já de caminho a Cracóvia acreditámos que era desta! Iriamos finalmente descansar! Mas não foi possivel.

Cracóvia é uma cidade cheia de pequenas preciosidades, desde igrejas lindíssimas, esplandas acolhedores e lojas de gelados que nos fizeram percorrer mais uns quantos quilómetros a pé por terras polacas. E ainda bem. Porque todas as experiências que passámos fizeram da Polónia o que nós não desconfiávamos de início... um destino de sonho.


MC

P.S. Para os mais interessados podem obter informações das minas de sal “Wieliczka” em http://www.kopalnia.pl/ (património mundial)

Polónia | Parte 3 | Zakopane e o Gerlach!

Gerlachovský - No pain No game!

Meus amigos, isto foi de longe a coisa mais difícil que fizemos na vida. Só dois portugueses, tão inocentes como inconscientes é que se poderiam ver a braços com tamanha façanha.

O Gerlachovský ou Gerlach para os mais chegados é o cume mais alto dos montes Tatra (que tem tudo a ver com a conhecida marca de camiões). O seu cume fica a uma altitude de 2655m e a vista do topo é arrebatadora, agora, tudo o resto é puro sofrimento!

Deixámos Varsóvia rumo ao sul, na direcção dos montes Tatra. Uns dias antes o Rui tinha visto na internet que poderia ser engraçado subir uma montanha na Polónia. (esta é a parte inocente). Como a Mafas não tem mais juízo do que o Rui achou a ideia fantástica! (isto ainda é inocente). Admito que achei estranho não ver muita informação sobre a montanha na Net, o que me levou a efectuar alguns telefonemas em Polaco-inglês para obter mais informações. Ou o meu polaco é muito mau ou o inglês deles é péssimo, o certo é que fiquei com a ideia de que a subida ao Gerlach seria bastante fácil. (aqui já alguma mistura de inocente com o tipo que acredita em tudo que lhe dizem).

Chegámos a Zakopane passados 400km e 7 horas de pura condução já que auto-estradas, nem vê-las! Zakopane foi talvez dos sítios mais espectaculares que vimos em toda a Polónia, foi de longe a maior surpresa. É o coração do turismo de Inverno Polaco e mesmo de verão são às centenas os inúmeros visitantes que passam despercebidos perante tamanha beleza. É uma pequena cidade tirada de um conto de encantar, de casinhas em madeira, ribeiros a correr e com um fundo de montanhas do tipo “Heidi e Pedro”. Vale a pena a visitar!

De qualquer modo foi em Zakopane que nos encontrámos com o nosso guia (ah pois é! – para subir o Gerlach é OBRIGATÓRIO guia credenciado). O despertar estava previsto para as 4.30 da manhã, mas por sorte, o S. Pedro local ajudou e as excelentes condições meteorológicas adiaram a alvorada para as 6.00. Fomos de carro até à Eslováquia e dai apanhámos o bus de montanha (entenda-se, Land Rover Defender) até ao refugio de Sliezsky que fica a 1667m. Já no refúgio efectuamos o registo para a subida com o pagamento do respectivo seguro, mais uma vez, obrigatório (aqui não se brinca e mais à frente vão perceber porquê!). O refúgio estava praticamente vazio, algumas equipas já tinham saído mais cedo e nós estávamos prestes a começar. Éramos cinco, a Mafas, eu, um polaco, um eslovaco e o guia Ryszard Gajewski - um zakopanense impecável que já fez muita montanha e alguns oito mil, que lhe levaram as pontas de alguns dedos das mãos e lhe ofereceram a possibilidade de usar um calçado uns números abaixo (se é que me faço entender!)

Partimos do refúgio às 8.30h ao longo de um vale glaciar espectacular e passados apenas 30 minutos de caminhada parámos na base de uma parede rochosa. Uns minutos antes tínhamos abandonado o trilho principal altura em que o nosso guia disse - vamos por um atalho! (medo!) Senti nesta primeira meia hora de caminhada que o guia esteve constantemente a testar a equipa, não só pelas perguntas que ia fazendo como pelo próprio ritmo elevado que impôs desde o início. Na base da parede vestimos os arneses, colocámos os capacetes e ele rapidamente organizou uma cordada (de salientar que tanto eu como a Mafas estávamos longe de saber que isto ia acontecer). Tentei tranquilizar a Mafas ao dizer-lhe que deveria ser apenas uma passagem mais técnica que seria por pouco tempo (inocente!). O pouco tempo durou mais de cinco horas encordados por um trilho que não existia subindo e descendo centenas de blocos de um imenso deserto rochoso. A subida foi muito dura, não tanto pelo grau técnico da escalada mas pelo ritmo elevado de caminhada com poucas paragens, de tal modo que em apenas 3:20m estávamos a chegar ao topo do Gerlach, depois de passarmos pelo Kvetnicová veža a 2433m, pelo Certova veža e pelo Kotlový štít ambos a 2601m!

2655m! Pode não parecer mas foi uma verdadeira vitória e a vista era simplesmente arrebatadora. Na subida passamos por três cordadas, estando uma delas parada devido a um acidente que não assistimos. A verdade é que a coisa foi grave e mais tarde viemos a saber que se tratou de uma queda em grupo ao longo de uma cascalheira. Em alguns minutos ouvimos o motor do helicóptero da equipa de resgate que confirmou a existência de feridos. Foi um espectáculo único observar a destreza com que o piloto colocou o aparelho a escassos metros da escarpa e do modo como toda a operação foi executada.
Com o resgate ainda a decorrer iniciamos a nossa descida. Mais uma vez foi crucial termos guia, porque, devido à natureza da montanha não existem trilhos marcados, pelo que a descida foi mais lenta e altamente técnica. Todo o cuidado era pouco pois estavam quatro cordadas a descer em simultâneo ao longo de uma interminável cascalheira de blocos que iam do tamanho de um berlinde a uma carrinha de mercadorias! A juntar à festa adicionamos à nossa cordada um eslovaco-polaco, um dos ilesos da equipa acidentada, que precisava de um grupo para completar a descida. Mais tarde viemos a saber que a equipa acidentada não estava autorizada para estar na montanha, pois não tinham guia nem seguros activos contra acidentes o que valeu aos tipos um valente raspanete em polaco (nem imagino os outros amigos que foram resgatados de helicóptero!)

Posto isto, prosseguimos descida com o quinto elemento, ao longo de cascalheiras e muitos ressaltos com degraus metálicos que faziam lembram as vias ferratas (mas sem as linha de vida e espaçados de 2 em 2 metros!)
A descida durou aproximadamente duas horas e no final tivemos direito a um abraço, um grande aperto de mão, umas palmadinhas no ombro e de uns sinceros parabéns! Nesse momento respirei de alívio, olhei para trás e acho que descomprimi da tensão e concentração da descida. Atrás de mim estava uma escarpa colossal e fui obrigado a questionar-me – descemos aquilo?
Tal como a subida a descida não foi fácil, não tanto pelo grau técnico, que também possuía, mas essencialmente pela concentração constante em não tropeçar, escorregar e cair no abismo com o resto dos companheiros de cordada.

Fiquei uns minutos a observar o que tínhamos feito de tal forma que abstrai-me de onde estava. A verdade é que estávamos no sopé da montanha oposto ao refúgio, a duas longas horas de caminhada por trilhos de blocos de granito. Esta foi para mim a pior parte, já tinha subido, descido e respirado fundo e não estava preparado para mais uma caminhada, na verdade estava exausto! Foram duas horas em piloto automático sem sentir as pernas a ver a Mafas à minha frente em semelhantes condições a pontapear todos os calhaus que não se desviavam dos pés dela!

Chegamos ao refúgio às 15:30, 7 horas e 988 metros de desnível depois. Estava um trapo, um trapo feliz. Feliz por termos conseguido, mas acima de tudo orgulhoso pelo desempenho da Mafas. Superou todos os obstáculos sem hesitar, com garra e força que a todos deixou admirados. Foi a verdadeira heroína do dia, o que leva a crer que está pronta para o próximo desafio – resta saber se a consigo acompanhar!

Resta ainda dizer que no dia seguinte saímos da cama a rastejar numa viagem até ao duche que mais parecia a ascensão do Evereste! Ossos do ofício!


RP
P.S. Para os mais curiosos, este é o Tatra do brasileiro André Azevedo! Mais informações sobre a marca em http://www.tatraworld.nl

domingo, outubro 15, 2006

Polónia | Parte 2 | Varsóvia

Feng shui... ai desculpe... dziękuję!

Chegamos de comboio a Varsóvia e fomos carregados (ok, tudo bem, assumo, foi o rui) que nem um texugo (nunca percebi esta expressão mas achei que ficava bastante bem neste texto) a caminho da pousada de junventude Helvetica. Foi uma agrádavel surpresa. Ao contrário da de Gdansk, não tivemos medo nem nada :) De seguida, fomos comprar mantimentos ao supermercado onde tivemos um dos momentos altos desta viagem... estava eu (mafas) super-orgulhosa do rui, enquanto este comprava oito fatias de queijo recorrendo a mais palavras polacas do que gestos – e isto é notável. Agora, mesmo, mesmo no fim quando o Pereira se despede com um “feng shui” em vez de “dziękuję” só mesmo o ataque fulminante e durador – aproximadamente dois dias – de riso, é que me impediu de lhe dizer que ele poderia falar correctamente polaco até ao final das férias que já não haveria maneira de eu recuperar a minha consideração pelo seu talento em falar tão estranha língua.

Depois da janta, fomos dar uma “voltinha” à noite. A “voltinha” durou algumas horas e deu para ver quase tudo o que constava no guia da American Express. O mais impressionante, foi ver o esforço feito em recuperar a Praça Velha de Varsóvia depois da II Guerra Mundial. No dia seguinte, passeámos pela ruas desta cidade-surpresa marcada por diferentes edíficios – desde torres de escritórios com referências à arquitectura contemporânea a edificos com pouco mais de 60 anos a “fingir” que tinham 200 tentado dissimular os efeitos de uma guerra devastadora.

Se por acaso derem lá um saltinho, ainda que seja muito tentador provar a comida tradicional polaca, cuidado com os biggos. Conselho de amigos!
MC

sábado, outubro 14, 2006

Polónia | Parte 1 | Gdańsk

Vai um Lody Truskawka!?!

Para quem não ia ter férias, estes dias na Polónia vieram mesmo a calhar. Quando a Mafas me falou na possibilidade de viajarmos à Polónia no âmbinto de um congresso internacional não soube o que pensar. Na verdade nunca tinha encarado a hipótese de visitar a Polónia, aliás, se me pedissem uma lista de destinos de sonho a visitar, a Polónia estaria longe de figurar em tamanha lista. Mas lá fomos!

Como já vem sendo habitual nas nossas saídas, estes dias estiveram longe de ser um descanso, em apenas 7 dias percorremos a Polónia do extremo Norte ao Sul, demos um mergulho no Báltico e escalámos a montanha mais alta da coordilheira Tatra, com tempo ainda de dar um pulinho à Eslováquia. Aviso: não tentem isto em casa!

Gdansk foi um despertar para uma realidade em tudo diferente do que já tinhamos experimentado anteriormente: um porto costeiro muito acolhedor ainda que marcado por sinais evidentes da II Guerra Mundial. Quer na arquitectura dos edificios quer nos sorrisos (ausentes...) dos polacos. Ainda assim, exeptuando a pousada da juventude (medo...muito medo...), é um sitio que guardamos na caixinha das boas recordações.
Para os mais curiosos, isto é um Truskawka!... fica por descobrir o que é um lody!
RP+MC

segunda-feira, outubro 02, 2006

Um inquilino muito especial

Este amigo aqui ao lado é um morcego-rabudo (Tadarida teniotis) e era um dos habitantes mais importantes da T04. Por ser uma espécie protegida, mereceu uma atenção muito especial antes da torre ser implodida. Atenção especial essa que implicou que a dita "Eng.ª Mafas" precisasse de alguém para lhe fazer segurança enquanto a rapariga se pendurava do 15º andar para ver se os radubos estavam bem de saúde. Esse alguém era um espelólogo de Sintra e até tinha jeito para a coisa. Agarrou-me e deu segurança...faz agora 5 anos e alguns meses...
MC

No princípio era...

O melhor é começar por aqui!
Alguém ainda se lembra disto?

Foi aqui que tudo começou, a T04! Projectada por Conceição Silva nos anos 60 a torre fazia parte de um complexo conjunto turístico para Tróia. Com o 25 de Abril de 74 o projecto parou e a torre foi abondonada ainda por concluir. Durante mais de quarenta anos foi um dos ícons da paisagem da península. De certa forma, acredito que a torre era mais do que uma simples ruína, era uma peça escultórica colossal, carregada de dramatismo nas suas rígidas formas geométricas. A 4 anos do seu abrupto final, fui convidado para dar apoio aos trabalhos que estavam a decorrer no local, nomeadamente na monitorização da população de morcegos que entretanto ocuparam a torre. Esta foi a primeira vez que vi a "Eng." Mafas, foi aqui que trocámos as primeiras impressões.

A 8 de Setembro de 2005 colapsou para o seu final. O "espéctaculo", que foi tão dramático como mediático durou escassos segundos. Em segundos foram reduzidos a pó 40 anos de história. Foram tantas as emoções. Subimos aquelas longas escadas dezenas de vezes, caminhamos por todos aqueles corredores, quartos, salas. Recordo a torre com saudade, não era apenas uma ruína, era bem mais do que isso. Consigo ainda ouvir os andorinhões a esvoaçarem pelo átrio principal em voos acrobáticos, consigo ouvir os morcegos com os seus "gritos" agudos, consigo ver a imensa vastidão da paisagem em seu redor. Recorrendo a palavras de um professor (arq. José Luís), o edificio só desaparece quando morrer a última pessoa que se lembrar dele!
RP